A noite era de bruxas
Estávamos, eu e o Sancho, junto a um arbusto (ele a ganhar inspiração e eu a tomar conta), eram para aí duas da manhã, e chega-se um gajo cambaleante e num monólogo que só ele entendia. À nossa beira, parou: “Boa noite”, disse em voz incerta. “Boa noite”, respondeu-lhe o meu ar de poucos amigos. Quando parecia que ia dizer mais alguma coisa, fez um gesto com os ombros. Quando parecia que ia embora, disse “Continuação”. “Continuação”, respondeu o meu olhar de enfado. Andou uns passos (“Estamos safos”, disse eu ao Sancho, que ainda não tinha conseguido cumprimentar o arbusto) e fez como que um eco: “Continuação para si também”. Dessa vez já não respondi, até que o gajo, já mais à frente, se saiu com esta: “É que eu tenho de cumprimentar as flores”. Bem, o meu ar de poucos amigos não resistiu e soltou uma gargalhada. Lá fomos para casa, do outro lado da rua, eu, o Sancho e o meu riso. E pensei “Mas por que raio é que as pessoas bebem?”. Do mal, o menos. À mesma hora, ou algumas depois, um dos seguranças do parque de estacionamento onde guardo o carro foi morto. E eu, porque a noite era de bruxas, não quisera sair com o carro, para não me enfiar no meio do trânsito.
1 Comments:
Credo...
Mesmo noite de bruxas! :(
Mas que se passa por este país onde já se podem contar histórias de sintonias de tempo como esta?...
Ufff
Aquela festinha ao miúdo e ...
como diria o outro:
"Continuação" !!
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