quinta-feira, julho 21

De outro António, o Lobo Antunes

Um homem com gripe

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão-de-ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

7 Comments:

Blogger hfm said...

Obrigada pela visita.
Gostei de ler este Lobo Antunes.

21/7/05 7:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

:)

21/7/05 7:28 da tarde  
Blogger maria said...

uhm...
ainda há pouco li algures que alguém se teria engasgado com canja...
muito perigosas, as mezinhas! "Lavado seja Deus!"
(in A Chuva Pasmada, Mia Couto, mais uma vez!!)

21/7/05 10:11 da tarde  
Blogger paulo said...

Não é por nada, mas se eu fosse a Lurdes mandava-o à merda.

22/7/05 11:48 da manhã  
Blogger Cadelinha Lésse said...

Apoiado!

22/7/05 2:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ai, IP (leia-se "itinerário principal"), com que pena andas de ti própria!...
Por que não te dás uns minutos de descanso?...

22/7/05 4:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Enganas-te, Ademar! Eu tenho pena é das pessoas que não sabem fazer outra coisa a não ser dizer mal, vulgo "deitar abaixo" (linguagem que deves preferir...)!

22/7/05 4:50 da tarde  

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