quinta-feira, março 24

Menino Jesus - Parte (para já) final

(...) Também não sei o que é ter uma conversa de filho para pai e olha que nesta idade é preciso começar a falar de gajas, porque esta coisa que tenho entre os membros inferiores vai dando uns sinais esquisitos e eu não sei o que fazer. Deverei ir para o armário? E as drogas? Já viste o que é chegar à escola e ouvir os outros meninos falar de seringas e eu não poder perguntar ao meu pai onde hei-de arranjar uma? À minha mãe nem me chego, que só quer saber das novelas mexicanas. Ando mesmo deprimido, meu! Preciso de saber quem é o meu pai, até porque daqui por uns anos vou precisar de falar com o banco dele para pedir um crédito e isto não se consegue de um dia para o outro. Já viste o que é querer comprar um carro e o meu banco recusar o empréstimo porque quer um fiador e eu não tenho? Parece que o velho tem guita que se farta, mas é claro que não estou interessado nisso, nem pouco mais ou menos, mas sempre dava uma ajudinha. Vá lá, Deus, pensa no meu caso, nem que tenhas de pedir àquele senhor da televisão para fazer um ponto de encontro. Eu tomo banho e enfrento as câmaras, se for preciso. Prometo que também posso mandar arranjar os dentes para ficar menos tenebroso e não fazer a minha mãe passar vergonhas perante a vizinhança quando eu for a Carnaxide. Deus, tu que mandaste criar-me, terás de descalçar esta bota por mim, pois eu ainda não alcancei a imortalidade (parece que isso é só aos 33, diz a D. Carminda, que jurou que vou subir aos céus três dias depois, que coisa mais tola) e não tenho os teus poderes. Responde por mail se te der mais jeito.” Ass. menino Jesus.

Só no dia seguinte se apercebeu de uma falha no plano: não tinha a morada do céu. O Natal ainda vinha longe, pelo que não adiantava pedir ajuda ao Pai-Natal, nem isso era recomendável porque os dois eram inimigos viscerais à custa das discussões sobre quem devia descer a chaminé e entregar os presentes na noite da consoada. Adiante. O menino começou a entrar em desespero, tanto mais que os correios estavam em greve e nem sequer sabia o valor do selo que tinha de colar com cuspe na porcaria do envelope...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mas, não há duas sem três...o menino também não tinha como ler o seu mail. Passados três meses, a caixa tava cheia, e a manutenção do servidor apagou todos os emails, os HOT que ficaram estavam bloquados, as espinhas teimavam em não desaparecer. O Acne era agora presença permanente!

24/3/05 5:09 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home