terça-feira, abril 26

Dia da liberdade

- Olá, podes baixar a música um bocadinho?
- Ah, desculpe, mas hoje não posso. Isto é uma festa, vão estar aqui umas 70 pessoas.
- Pois, mas eu ouço a tua música em minha casa.
- Feche as janelas.
- Já fechei. Ouço a música na mesma.
- Ah, mas não posso baixar, estamos a fazer testes de som. Desculpe, mas hoje não posso baixar a música. É feriado!
- Pois, mas eu não consigo estar dentro de casa com a tua música aos berros. Ainda por cima, tenho de estudar.
- Mas até estuda melhor com música.
- Achas razoável eu ter de ouvir a tua música aos berros, dentro de minha casa? Ainda por cima, estive a estudar toda a noite e às onze e meia vocês acordaram-me com a música.
- Mas já era de dia. Ainda se fosse de noite... mas já era de dia. E hoje é feriado, é como se fosse domingo. E se estivesse ali uma máquina a fazer barulho?
- Não é bem a mesma coisa e há limites para o ruído. Sabes o que diz a lei do ruído?
- Não sei, nem me interessa. Hoje é feriado e vamos ter aqui 70 pessoas. Agora estamos a testar o som, mas daqui a bocado, quando estiver aqui toda a gente a falar, temos de ter a música alto, se não não conseguimos ouvir a música.
- Pois, mas eu estou a pedir-te se baixas um bocado o volume.
- Mas hoje não podemos baixar o volume. Os vizinhos estão todos em casa e ninguém está a reclamar.
- Eu não estou a reclamar, estou a pedir se baixas um bocado o volume.
- Não, hoje é feriado, é o 25 de Abril, o dia da liberdade.
- Da tua e da minha...


Este diálogo de surdos foi travado ontem, após o almoço, entre mim e um miúdo vizinho. Não deve ter mais de 15 ou 16 anos, mas parece saber o que foi o 25 de Abril. Sabe que ontem era o dia da liberdade...
O raio da música era mesmo do piorio, daquela, como se chama, pastilha? Tentei remediar os estragos ligando dois rádios: um para abafar o lixo barulhento que me entrava pelas frinchas da janela, o outro para abafar a música do primeiro, tapando os ouvidos com auriculares. Fiquei com uma dor de cabeça das grandes e, é bom de ver, não consegui estudar coisa nenhuma.
A minha vontade era chamar a polícia. E que boa rusga ia dar... aquilo devia ser só charros e pastilhas naquelas cabeças! Mas preferi optar pelo sacrifício, não fosse haver danos ainda piores. Não é que o puto seja inteligente, mas a maldade não se mede pelo QI e receei vinganças sobre os bobis. Também me ocorreu dar-lhe um tiro, mas depois pensei que na cadeia não deixam entrar bobis à hora da visita...
Toma e embrulha, que é para não meteres o nariz na liberdade dos outros...
Ao menos, a minha mãe deu-me de comer. Viva o 25 de Abril!!!

(nem de propósito: está agora a passar na rádio a música “You had a bad day”)

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Mulher honrada em casa, de perna quebrada"
ou...
"Não busques o pão no focinho do cão"
ou...
"Por mais santo que seja o dia, a panela tem de ferver"
ou...
"Quem de nenhuma culpa se ofende, nenhum merecimento o obriga".

26/4/05 6:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tás a ver? Ao menos que fosse Marisa, mesmo com o "Transparente"...Porque é que não foste estudar para junto do mar?? Há lá boas vistas....

27/4/05 12:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

As vistas de ao pé do mar são boas... mas impedem o estudo. Fico cegueta e não consigo ler!!!

27/4/05 2:37 da tarde  

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