sexta-feira, maio 30

As ondas

Molhar os pés na água do mar é extraordinário. Faz sorrir e pensar na inocência dos primeiros anos, em que tudo era novidade e descoberta. Hoje, as ondas tímidas molharam-me os pés, mas lavaram-me a lucidez. Ou talvez não. Se calhar, fizeram-me ver o que há muito eu não queria ver. Se calhar, disseram-me que não devo ir por aí, que o caminho é outro.
A vida passa e o que ela me fez passar não tem de ter sido mau. Foi e pronto. Não somos nós também que assinamos o nosso destino, não está nas nossas mãos aquilo que queremos ser? Se for preciso andar para trás para retomar o caminho, ande-se para trás. Pois a sensação que fica é a de que de outra forma não se consegue andar para a frente.
Hei-de ir mais vezes lavar a minha lucidez.

segunda-feira, maio 26

Contas estranhas

Tenho um serralheiro, dois dentistas e um maestro.

domingo, maio 25

As minhas dúvidas

Há duas razões por que faço perguntas: a curiosidade e a dúvida. A minha maior dúvida, neste preciso momento, é saber como se cala o bico a um papagaio que passa o dia a grasnar, mesmo por cima da minha cabeça. Desde que o sol nasce até que o sol se põe. Outra dúvida que me assalta é: para que serve um papagaio que passa o dia a grasnar. Por fim: para que serviria, mesmo que imitasse sons humanos. As minhas hipóteses de resposta não são muito abonatórias para o bicho...

quinta-feira, maio 22

A família

A família é um lugar estranho.

domingo, maio 18

A cultura do povo

Nunca me tinha acontecido. Por causa dessa coisa chamada futebol, que parece ser o bem mais precioso das almas lusas, foi cancelada uma sessão de teatro. Estávamos lá apenas 14, o que seria demasiado desconcertante para o elenco respeitável que nos esperava em “A ronda nocturna”. Pediram desculpa, devolvemos os bilhetes, marcámos nova data. Não culpo ninguém a não ser esta maneira estúpida de se virar as costas à cultura. Tenho vergonha deste povo. E de ter de viver no meio dele.

quarta-feira, maio 14

Outro provérbio

Dizem que este é búlgaro:

"Agarra a oportunidade pela barba, porque atrás ela não tem cabelo".

domingo, maio 11

Será assim?

O que segue foi extraído de um artigo da autoria de Joel Neto, publicado na "NS" do último sábado:
"Nós nunca amaremos outra mulher como aquela que carregou o nosso filho no ventre".
Quem souber do assunto que se pronuncie...

sábado, maio 10

Na cozinha

Poucas coisas me deixam tão satisfeita como conseguir fazer uma omelete sem a espatifar toda. A sopa também não me tem saído mal! Qualquer dia atrevo-me a ligar o forno sozinha...

quarta-feira, maio 7

Provérbio (adaptado)

Há sempre um testo para uma panela. No entanto, há quem siga sendo frigideira.

segunda-feira, maio 5

Enigma

Gli enigmi sono tre, la morte è una!

domingo, maio 4

O dia em que o sol sorriu

Como iria estar o tempo. Esta a minha preocupação para aquele dia, o do casamento da Luís com o Luís. A deles também, que não vêem na chuva a bênção que os crentes dizem abater-se sobre as bodas. E, embora ela já tivesse descoberto que aquele dia era consagrado ao sol, segundo outras crenças que depressa aceitou como suas, a verdade é que o dia, aquele, acordou feio, ainda que de temperatura amena, e logo me apressei a mandar à noiva uma mensagem dando-lhe conta da minha primeira tarefa da manhã - “Já mandei varrer o céu. Não te apoquentes”. Na hora perto da verdade, o céu, afinal, continuava como o dia, feio e cinzento. Até que aconteceu: no momento em que a noiva chegou ao jardim das Tílias, onde todos a aguardavam para a hora da verdade, o sol mostrou o seu sorriso e ali ficou, toda a tarde, a fazer-lhe companhia. E sorri. Não tanto como o sol, nem sequer como ela, que estava vestida de elegância e beleza. Eu acredito que foi por vê-la assim que o dia ficou bonito também.

quinta-feira, maio 1

Os gunas e os outros

Multiplicaram-se como cogumelos e andam por aí à solta, para mal dos nossos pecados. Usam brinco à R7, trajam calça rota e nos pés exibem aquelas sapatilhas ranhosas que têm uns belos de uns amortecedores. No cabelo há sempre gel, o corte é escalado-de-mau gosto e, vá lá a gente saber porquê, o boné começa a dar lugar às madeixas. Falam muito e falam alto, mas, em cada dez palavras, onze são asneiras. Ah, costumam fazer acrobacias no metro, pendurando-se nos varões. Estes são os gunas.

Os outros usam “corte à Orlando Gaspar” (os que são do Porto percebem a expressão), deixam as calças escorrer-lhes pelo rabo (tanto, que por vezes têm de ir puxá-las, se não o dito fica mesmo à mostra), com a bela da cuequinha a ver-se tão bem! Estes usam argola em vez de brinco e também calha calçarem botas Timberland ou sapatilhas de menos-mau-gosto-que-as-dos-outros. E também falam alto e falam muito, vocabulário curto, é certo, e gostam muito das expressões “tipo” e “tipo”. Estes são os betos.

No Porto, no grande Porto, não se vê outra coisa. Não sei como é no resto do país, mas cá para cima só há macacos destes. Coitados dos macacos, que até são boa gente.